
A gorda sofria de uma terrível dor nas costas.
Uma dor terrível, mas não tão terrível quanto seu peso.
E apesar de todos os exames, pílulas e tratamentos,
a gorda só sentia alívio quando se deitava no sofá.
Um dia, cansada de todas as receitas e recomendações médicas;
cansada de filhos, marido e toda sorte de parentes,
que aconselhavam-na cruelmente a perder peso,
a gorda caminhou até o sofá e sentou-se.
Decidiu que se ali era único lugar onde tinha paz,
Ali ficaria até o fim de seus dias.
Ali a gorda se sentou e engordou mais e mais.
E ali passou anos e anos, sentada.
Comida levavam para ela.
Suas necessidades fisiológicas escorriam para o carpete.
Não levantava para ser mãe. Não levantava para ser esposa.
Não levantava para ser tia, prima, amiga ou conhecida.
Não levantava para nada.
Foi-se primeiro o marido.
Foram-se depois os filhos.
Foram-se os parentes e, pouco a pouco, os vizinhos esqueceram-se dela.
Quando ficou finalmente sozinha,
sem ninguém para dar-lhe o que comer,
a gorda passou a devorar o que estava ao seu alcance.
Roupas, móveis, objetos de decoração;
cachorros e gatos de rua, que atreviam-se a entrar na casa.
Engordou.
E morreu de tanto engordar.
O que a gorda não sabia é que naquele fatídico dia
em que decidiu sentar-se para sempre,
achatou não apenas tecido, molas e madeira;
Mas também seus sonhos, seus desejos, sua alma.
Sentou sobre si mesma e esmagou-se com seu hediondo peso.
Texto e ilustração: Jeff Santanielo
1 manifestos:
A unica coisa boa nas desgraças gordas com as quais topamos é que elas nos fazem pensar... pensar... e nesse processo criativo as coisas fluem
Eu queria ter metade do seu talento...(Sim. Eu pago pau p vc) Quer ser pai?
bjsteadoro
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