27 de jan. de 2010

A Puta Poeta

A puta poeta confundia-se com uma puta comum

Banhava-se em perfume barato
Vestia roupas extravagantes
E nas esquinas parava,
Barata e extravagante como seus perfumes e roupas

Esperava o primeiro cliente e após duas palavras
E negociações nas quais quase nunca levava vantagem
Entrava no carro e seguia para o destino cruel
Que era o objetivo e castigo de toda puta

Mas a puta poeta tinha um diferencial
Vendia-se, é verdade
Levava estocadas ásperas de membros masculinos eretos
Que penetravam-na sem nenhuma delicadeza

Escutava palavras de baixo calão
E freqüentemente era alvo de jatos de gozo fútil e sem graça.
Sem graça para ela, entenda-se bem

Mas quando o amante satisfeito terminava seu fétido ritual
A puta poeta ascendia seu cigarro
E nua declamava poemas de Camões

E essa era sua vingança

Pois castigo pior não há, para quem procura uma puta,
Do que saber que aquele animal sexual
Que tão selvagem violentou na cama
É capaz de pensar, sentir e se expressar

Ou pior ainda é saber
Que aquela fêmea ardil,
Que suportou seu membro no ventre, no reto e na garganta,
É tão ou mais inteligente do que ele
E vive

É uma dor tão voraz que um dia
Um desses bichos que nos convencionamos a chamar de homem
Não foi homem o bastante para suportar

E a puta poeta foi brutalmente assassinada
Num motel vagabundo da Zona Norte
Foi enterrada dias depois
E em seu epitáfio lia-se “Gentil Senhora”


Texto e ilustração: Jeff Santanielo

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