bem
é muito relativo.
eu fiz muito pra você.
e você, o que fez por mim?
se eu tô te cobrando?
não, não tô.
até porque o que vem por intermédio de cobranças não é bom,
nem faz bem.
se eu to jogando na sua cara?
é, talvez eu esteja.
É que eu cansei, sabe?
de ser o bom, de fazer o bem.
bem pra quem?
se sou eu quem chora sozinho
dirigindo a porra do carro velho
no caminho de volta pra casa
depois de uma noite que deveria ter sido "boa"
boa.
é fácil ter uma boa noite,
quando você tem alguém que te faz bem.
ou pelo menos finge que tem.
eu to cansado, tenho tosse, minha cabeça não para de alardear.
angústia. faz bem?
amor. faz bem?
cocaína. faz bem?
medo. é isso que eu tenho.
medo de acabar sozinho, moribundo e sem ninguém.
e também tenho medo de acabar com alguém que não me faz bem.
é melhor ficar assim, então, como estamos.
eu finjo que te faço bem.
você me ignora.
eu subo na porra do carro velho e vou embora.
chorar.
31 de jul. de 2010
11 de mar. de 2010
O castelo à beira mar, a princesa que nele havia, seu pai - o rei - e o mar propriamente dito
Author: Puta
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at:18:28
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Category :
audiodrama,
estórias,
jeff santanielo
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Há vinte anos fechada na torre mais alta de um alto castelo
Havia uma linda princesa de longos cabelos vermelhos e belos
Seu pai o mais poderoso de todos os reis da então monarquia
Trancara a filha mais velha e à margem do mundo a princesa vivia
De tanto olhar para o mar que era a vista de sua prisão
A bela princesa sentiu pelo imenso azul uma imensa atração
Da torre mais alta que havia tão longe do caos e da devassidão
A princesa saltou para o mar e o mar consumou a sua paixão
E ao perceber que a filha pulara à morte sem nem exitar
O rei tirano monarca decidiu uma guerra ao mar declarar
Morreram baleias e peixes morreram as algas e os golfinhos
Morreram os tubarões as focas sereias e os leões marinhos
E depois da calamidade reprovada aos olhos da sociedade
O mar vermelho de sangue fora derrotado pela crueldade
E o rei glorioso sentava no alto da torre e ao mar prometia
Vermelho pra sempre seria da cor dos cabelos da finada filha
Texto e ilustração: Jeff Santanielo
**breve em audiodrama**
Cansei
Author: Puta
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at:07:55
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angelica zignani,
desabafo
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cansei
De ter opinião,
Era tanta que não tinha como fechar os olhos.
Elas vinham correndo atrás de uma colocação baseada, preparada… ada… ada…
Daí os pensamentos começaram a se enciumar.
Para que tanta opinião, elas ocupam tanto espaço.
De então, sou da seguinte opinião:
Crio opiniões e vendo a preço inopinável no mercado.
Opiniões adversas a esta, são genéricas.
Originais mesmo, só as minhas.
Mas não me peça.
Apenas vendo!
Hahahahaha!
Cansei.
Texto: Angélica Zignani. Ilustração: Jeff Santanielo.
5 de mar. de 2010
Daí
Author: Puta
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at:13:13
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Category :
desabafo,
jeff santanielo
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Daí um dia você acorda e descobre que está sozinho.
Descobre que todos se foram,
e que todas as coisas (que não se pode tocar) desapareceram.
Não há mais amigos, mãe, pai, irmão.
Não há mais avós, tios, afilhados.
Não há nada mais.
Daí você descobre que tudo não passou de uma brincadeira de mau gosto.
Tudo o que é intenso, tende a evaporar.
E essa lição você já deveria ter aprendido.
E lágrimas. E amor. E amizade. E lealdade. E culpa.
Tudo isso tem um dedo de burrice.
O pessimista vai blasfemar, espernear, gritar, tomar anti-depressivos, gritar, blasfemar mais um pouco, tomar anti-depressivos com alguma bebida alcoólica, fazer alguma besteira, gritar, ligar para as pessoas, blasfemar novamente, parar de tomar anti-depressivos e domir por três dias seguidos.
O otimista vai fuçar na velha caixa de fotografias, sorrir e pensar: “valeu a pena”.
Daí vem a pergunta que todos tememos,
Tememos porque, por maior que seja o ocorrido,
alguém sempre será indiferente em relação à ele.
- E daí? - pergunta.
Para esta pergunta não há resposta.
Texto e ilustração: Jeff Santanielo.
11 de fev. de 2010
Derrame
Author: Puta
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at:13:17
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jeff santanielo,
reflexos
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derrame
de rrame
derra me
der ra me
derr ame
derram e
d errame
d erra me
Texto e ilustração: Jeff Santanielo
9 de fev. de 2010
(...)
Author: Puta
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at:13:30
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patrícia redigolo,
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Sofre Guidão
Bisteca é feijão
Em gorda obesa é o peso do limão
Acordou de humor inverso pediu terço oração
mentira
Biscate combustão é fogo de quatro
Quarteirão
no apagão quis tomada e tomou
Encaçapada
a mesa
Tecido de palma tentação colada
Barriga suada mão engordurada
Taco torto
Pernas espalmadas grunhido e pressão
Posto de saúde fila e penetra
Injeção
na roça no quintal
se com some no varal
Baba é carnaval
A frente paulada e o verso anal
em cima re baixa
e se não
em caixa mete a mão
Dinheiro amassado, corpo cansado,
Explosão
leite azedado
Escorre botão.
Texto: Patrícia Redigolo. Ilustração: Jeff Santanielo.
4 de fev. de 2010
Índigo
Author: Puta
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at:14:57
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angelica zignani,
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A cor do anil.
Tantas são as formas de colorir.
Colorir o anil de índigo seria mudar o azul?
Como saber do índigo a mudança provocada no anil?
De tantos jeitos e formas os jeitos e as formas não são mais.
A descoberta é que era.
Depois do nome, tudo passou a ser o nome do que pode ser.

Texto: Angelica Zignani. Ilustração: Jeff Santanielo.
3 de fev. de 2010
Confissões de um Genocida
Author: Puta
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at:11:33
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jeff santanielo,
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Quero que as pessoas morram
Que morram pais, que morram filhos
ou melhor: que morram os filhos antes dos pais,
e depois que estes já tiverem sofrido o bastante
que morram também.
Que morram os tios, que morram os sobrinhos que morram padrinhos e afilhados
morram honestos, morram corruptos
Que morram frígidos e fogosos
Morra a fauna e morra a flora
E que morra o mundo, enfim.
Pois só encontrando a morte é que a vida se revigora.
(E nós precisamos mesmo de um bom motivo pra chorar)
texto e ilustração: Jeff Santanielo
27 de jan. de 2010
A Puta Poeta
Author: Jeff Santanielo
|
at:14:02
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estórias,
jeff santanielo
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A puta poeta confundia-se com uma puta comum
Banhava-se em perfume barato
Vestia roupas extravagantes
E nas esquinas parava,
Barata e extravagante como seus perfumes e roupas
Esperava o primeiro cliente e após duas palavras
E negociações nas quais quase nunca levava vantagem
Entrava no carro e seguia para o destino cruel
Que era o objetivo e castigo de toda puta
Mas a puta poeta tinha um diferencial
Vendia-se, é verdade
Levava estocadas ásperas de membros masculinos eretos
Que penetravam-na sem nenhuma delicadeza
Escutava palavras de baixo calão
E freqüentemente era alvo de jatos de gozo fútil e sem graça.
Sem graça para ela, entenda-se bem
Mas quando o amante satisfeito terminava seu fétido ritual
A puta poeta ascendia seu cigarro
E nua declamava poemas de Camões
E essa era sua vingança
Pois castigo pior não há, para quem procura uma puta,
Do que saber que aquele animal sexual
Que tão selvagem violentou na cama
É capaz de pensar, sentir e se expressar
Ou pior ainda é saber
Que aquela fêmea ardil,
Que suportou seu membro no ventre, no reto e na garganta,
É tão ou mais inteligente do que ele
E vive
É uma dor tão voraz que um dia
Um desses bichos que nos convencionamos a chamar de homem
Não foi homem o bastante para suportar
E a puta poeta foi brutalmente assassinada
Num motel vagabundo da Zona Norte
Foi enterrada dias depois
E em seu epitáfio lia-se “Gentil Senhora”

Texto e ilustração: Jeff Santanielo
Banhava-se em perfume barato
Vestia roupas extravagantes
E nas esquinas parava,
Barata e extravagante como seus perfumes e roupas
Esperava o primeiro cliente e após duas palavras
E negociações nas quais quase nunca levava vantagem
Entrava no carro e seguia para o destino cruel
Que era o objetivo e castigo de toda puta
Mas a puta poeta tinha um diferencial
Vendia-se, é verdade
Levava estocadas ásperas de membros masculinos eretos
Que penetravam-na sem nenhuma delicadeza
Escutava palavras de baixo calão
E freqüentemente era alvo de jatos de gozo fútil e sem graça.
Sem graça para ela, entenda-se bem
Mas quando o amante satisfeito terminava seu fétido ritual
A puta poeta ascendia seu cigarro
E nua declamava poemas de Camões
E essa era sua vingança
Pois castigo pior não há, para quem procura uma puta,
Do que saber que aquele animal sexual
Que tão selvagem violentou na cama
É capaz de pensar, sentir e se expressar
Ou pior ainda é saber
Que aquela fêmea ardil,
Que suportou seu membro no ventre, no reto e na garganta,
É tão ou mais inteligente do que ele
E vive
É uma dor tão voraz que um dia
Um desses bichos que nos convencionamos a chamar de homem
Não foi homem o bastante para suportar
E a puta poeta foi brutalmente assassinada
Num motel vagabundo da Zona Norte
Foi enterrada dias depois
E em seu epitáfio lia-se “Gentil Senhora”

Texto e ilustração: Jeff Santanielo
Nó
Author: Jeff Santanielo
|
at:12:40
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Category :
jeff santanielo,
reflexos
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Nó.
Na garganta seca
a palavra falha,
a saliva engasga.
Só.
A cabeça falta,
os olhos ardem,
as pernas tremem.
Óh!
Se a palavra some,
se a mente salta,
quem é que sopra o que dizer?
Nó.
A respiração já é lenta,
e agora argumenta que
não tem mais nada a fazer.
O coração aperta,
e cansado se entrega,
pois lhe falta por quem bater.
E aí é nó,
e aí é dor,
e aí é dó.
- E esse cabra forte, morreu do quê?
- Morreu de falta do que viver.
Texto e ilustração: Jeff Santanielo
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